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Alto-falante raiz

Nesse terceiro episódio trataremos das gravações mono e estereofônicas, partindo do LP Macumba, de Heitor dos Prazeres, de 1955, e indo até o LP Quilombo, com mestre Darcy, de 1973.

O chefe da Linha das Almas é Dom Miguel, que no sincretismo católico-umbandista corresponde ao arcanjo São Miguel.


Em 1955 é lançado o LP Macumba, com Heitor dos Prazeres e sua gente. Produção da gravadora Long Play Rádio, do empresário Ovídio Grotera, antigo diretor comercial das Rádios Nacional e Tupi, no Rio de Janeiro. Com fábrica própria sediada à Rua Quissamã, 910, na cidade de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, a empresa de Grotera tinha o nome comercial de Rádio Serviços, Propaganda LTDA, e possuía estúdios próprios situados à Avenida Franklin Roosevelt, 137, no 10º andar, na então capital federal. A gravadora de Grotera foi uma das precursoras dos discos de longa duração, que começaram a ser produzidos no Brasil no início dos anos 50, utilizando o formato de 10 polegadas (25cm), 33 revoluções por minuto, com quatro faixas de cada lado.


Heitor dos Prazeres grava no LP Macumba oito pontos, todos registrados como de sua autoria, sendo dois em parceria com Kaumer Teixeira e um com Jacyra Araujo. O LP traz na contracapa texto sobre a origem do samba carioca na Praça Onze, e cita festas de terreiro de pais e mães de santo como Tio Maurício, João Alabá, Tia Eva entre muitos outros. O texto aponta Heitor dos Prazeres como criador da “Roda de Samba”, e todo o conjunto, incluindo a ilustração da capa, produz o efeito narrativo de uma história do samba de raiz. No estúdio, em 1955, a mistura em um único sinal elétrico de áudio da voz solo, resposta e coro, percussão e instrumentos de cordas quer fixar no microssulco do disco da “Long Play Rádio”, segundo sua propaganda de 1952, “uma mensagem musical”. Quase 70 anos depois, o que ouvimos é uma mensagem musical divulgando a arte sonora de Heitor dos Prazeres e sua gente no alto-falante raiz da Rádio.


Heitor dos Prazeres foi um dos fundadores da Portela. Contam Candeia e Isnard que ele teria ganhado um concurso de samba na casa de José Spinelli, ou Zé Espinguela, em 1928. O samba chamava-se “A tristeza me persegue”, e, segundo depoimento de Antonio Rufino, “vindo de lá cheio de banca”, Heitor criou um estandarte para o Conjunto de Samba Oswaldo Cruz com “a camisa de malandro em meia lua de palha de seda com o sol no centro”, e teria convencido Paulo da Portela a mudar o nome para Quem nos Faz é o Capricho.


Trinta anos depois, algumas gravadoras brasileiras aproveitaram a nova tecnologia HIFI do Long Play para produzir discos com o som da bateria das Escolas de Samba.


Os três LPs são do padrão 12 polegadas (30cm) e apontam para uma competição entre as gravadoras brasileiras. Dois dos três álbuns apresentam compositores de diferentes Escolas de Samba, e uma coisa os três LPs têm em comum: o som dos instrumentos da bateria foi gravado com as novas técnicas de alta fidelidade em salas de estúdio fonográfico.


Contam Candeia e Isnard que

“pra falar em bateria, torna-se necessário dizer algo a respeito do surgimento dos instrumentos. Inicialmente as pessoas ligadas à origem das Escolas de Samba e dos Ranchos participavam de reuniões festeiras (Caxambu, Lundu, Jongo), ou ainda do culto afro-brasileiro, onde tomavam parte ativa e intensamente instrumentos como atabaque, tambores, agogô, tamborim, pandeiro, triângulo que auxiliavam nas festas e no ritual”.

No Jornal do Brasil, em 20 de dezembro de 1958, a coluna Discos Populares, de Maurício Quádrio, informa que a

“Long Play Rádio reuniu em sua sede cronistas e críticos fonográficos para assistirem à realização de mais uma façanha de Ovídio Grotera: as primeiras gravações estereofônicas brasileiras. Os dois técnicos, Jorge e Manuel Cardoso, sem a colaboração de “experts” estrangeiros, souberam manusear a não simples aparelhagem estereofônica com indiscutível competência, tanto na gravação de músicas populares quanto na de músicas sinfônicas”.

Quinze anos depois, Candeia produz o LP Quilombo, em 1973, onde ele reúne duas expressões da cultura afro-brasileira de raiz em uma sonoridade estereofônica já consolidada por sistemas de reprodução domésticos de dois alto-falantes. Através dessa técnica, a imagem sonora da roda de caxambu, dança derivada do jongo, e da roda de capoeira, que nas palavras de Candeia “a princípio era dança, mas a ânsia de liberdade a transformou em luta”, pode ser visualizada pelo efeito invisível da estereofonia.

“Jongo é a expressão coreográfica que os negros Bantos trouxeram para o Brasil. Cultivado nos Estados do sudeste, antigamente o jongo tinha aspectos místicos, fechados, esotéricos, era parte do ritual da linha das almas. O Caxambu é o lado aberto, mais profano da brincadeira e da galhofa. O que realmente apresentamos neste LP.”

Texto de Candeia sobre o jongo e o caxambu no LP Quilombo.


Essa brincadeira e seus personagens históricos é que Darcy evoca no estúdio de gravação para ouvirmos 50 anos depois na estereofonia do par alto falantes raiz. É isso também que Candeia apresenta em diversos cantos do samba de roda.


Ficha Técnica: LP Jongo Basam & Capoeira de Angola, 1973. Lado A - Jongo.

Darcy canta e toca Atabaques, Agomapuita e Caxambu.

Carlinhos toca o Candongueiro.

Kacilê toca o Agogô.

Coro: Sembas, Djanira, Sheila, Lilian, Silvinha e Kacilê.

Produção: Candeia.

Pesquisa Musical: Waldomiro J. Oliveira.

Supervisão: José Xavier.

Técnico de gravação e mixagem: Orlando Costa.

Layout e fotos: Joselito.



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CRIAÇÃO

Animação e
desenho gráfico:

RENATO TELES

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Locução e
desenho sonoro:

A pesquisa de conteúdo deste site é feita com o apoio da bolsa de doutorado CAPES PROEX, do programa de pós-graduação em história social da FFLCH da USP.

BRUNO TAVARES

Nome da Pesquisa de Bruno Tavares Magalhães Macedo (2021-2025):

Obsoleto contemporâneo. Ouvindo em máquinas falantes uma história do som brasileiro (1911-2011)

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