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Cangoma calling

No segundo podcast vamos ouvir as gravações históricas de Stanley e Barbara Stein realizadas no Brasil no final da década de 1940 utilizando um gravador de arame.

(Stanley Stein, 2013) - Gostaria de ser considerado aqui na função de técnico, nada mais e nada menos, simplesmente porque, há cerca de sessenta anos, achei de gravar, em um gravador de arame da General Electric, antigo e muito pesado, o que eu pensei que fossem apenas canções de trabalho (por nós chamadas de “canções tagarelas”) mas eram jongos cantarolados por ex-escravos, ainda lembrados na voz de seus descendentes, numa antiga plantação de café no município de Vassouras, no Vale do Paraíba, Estado do Rio de Janeiro. 

Gravadores de arame foram inventados e patenteados no início do século XX, desenvolvidos durante a segunda guerra mundial e comercializados nos anos 1940 antes da chegada ao mercado dos gravadores de fita magnética. Os aparelhos trazem num mesmo corpo físico amplificadores de microfones e de alto falantes integrados. 

(Stanley Stein, 2013) - Minha coleção de gravações de jongos de 1948 e início de 1949 em torno de Vassouras, sua recente conversão de fio de arame para CD e sua difusão no Brasil, me parecem questões de puro acaso. Estão relacionadas com a breve exposição às gravações de Melville e Frances Herskovits, realizadas em trabalhos de campo entre o Daomé e o Haiti, que me sensibilizaram para a magia da tecnologia e da memória. 
(Stanley Stein, 2013) - Além disso, houve as notáveis narrativas da escravidão e da pós-abolição oralmente recolhidas no Sul dos EUA, reunidos durante a Grande Depressão (1929-1930) pelo Projeto dos Escritores Federais, e aproveitado por Benjamin Botkin em seu clássico livro Lay My Burden Down: A Folk History of Slavery, dedicado com sensibilidade “ao narradores”, que me sensibilizou para o significado e as recompensas de ir além da documentação disponível para capturar o que não está escrito, as vozes dos oprimidos e sua memória. 
(Depoimento em Botkin, p. 269) - Depois da guerra (de Sessessão 1861-1865) comprei um violino, e eu era um bom violinista. Costumava tocar violino para as brancas dançarem. Acabei pegando o jeito, era um dom natural. Eu ainda poderia tocar se tivesse um violino. Eu costumava brincar em nossas festas de quadrilhas também, tocando todas aquelas músicas antigas – “Soldier’s Joy”, “Jimmy Long Josey”, “Arkansas Traveller” e “Black-eye Susie”.
(Stanley Stein, 2013) - Mas agora vem a lamentável conclusão da minha experiência de colecionar jongos com um gravador grande e pesado (cortesia da Embaixada dos EUA no Rio). As canções assim gravadas permaneceram sepultadas em arame, aguardando a ressurreição quase seis décadas depois.

A ressureição do som de arame se deu quando o pesquisador Gustavo Pacheco do Museu Folclórico do Brasil no Rio visitou Universidade de Princeton e, numa breve conversa, ouviu Stanley mencionar a gravação eletrônica. 

(Stanley Stein, 2013) - Mas não consegui me lembrar onde havia guardado seu carretel. Mas Pacheco era um correspondente persistente, e um dia me aconteceu de abrir a gaveta inferior de um arquivo e reconhecer o carretel, e despachá-lo para o Rio. 

O momento em que ocorre esse retorno da gravação de arame ao Brasil (1999) não é mera coincidência, pois faz parte do processo de revitalização e de patrimonialização dos jongos do sudeste


Folias de reis, Calangos, Modas populares, Sambas e Jongos fazem parte de uma ancestralidade afro brasileira de grande presença na história do Vale do Paraíba


No século XXI é quando o chamado de Cangoma (Cangoma Calling) se torna vivo outra vez, dançado, tocado e cantado pelas comunidades do Vale do Café, pois é como dizem os versos de Adeus, Cangoma – “eu vou meu cangoma fica, aqui até outra hora”



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CRIAÇÃO

Animação e
desenho gráfico:

RENATO TELES

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Locução e
desenho sonoro:

A pesquisa de conteúdo deste site é feita com o apoio da bolsa de doutorado CAPES PROEX, do programa de pós-graduação em história social da FFLCH da USP.

BRUNO TAVARES

Nome da Pesquisa de Bruno Tavares Magalhães Macedo (2021-2025):

Obsoleto contemporâneo. Ouvindo em máquinas falantes uma história do som brasileiro (1911-2011)

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