Sobre o Disco


Luis Perequê. Disco Encanto Caiçara, 1992. Este disco é o único LP (LP do inglês Long Play, mais de 15min de cada lado) utilizado como fonte na pesquisa para a dissertação Uma Festa Literária e um Silo Cultural em Paraty 1975-2015. Isto traz uma mudança qualitativa na história da música de Paraty. Não por ser um trabalho artístico melhor do que os outros, mas por trazer na forma do disco uma mudança de conceito, que é o conceito de discos feitos de poesia e música, para cantar ou dançar, com uma única prática social indicada no fonograma. É o caso do carnaval, da ciranda ou da serenata, que apesar de serem formas artísticas ricas e diversas do ponto de vista da comunicação, são práticas que marcam uma identidade estável, reconhecível pelo imaginário social de um lugar, Paraty.
Mas ao compor o repertório de um disco com canções relacionadas ao conjunto de uma cultura, o LP Encanto Caiçara tem outro desafio: estabelecer um painel literário musical sobre a complexidade de um imaginário social novo. Produzir uma arte relacionada com a comunicação e a recepção diferenciada de uma identidade cultural em formação. Um álbum falando do encantamento com um tema, a cultura caiçara, ainda por legitimar.
O conjunto luta para se afirmar. O disco parte da história pessoal de um artista nascido em uma realidade cambiante, cuja visão de mundo é explicitada no material do encarte, que, comparado aos outros discos citados, é o maior e mais completo em informações - e isso devido ao próprio tamanho do objeto (LP). Os compactos que vimos até agora tem uma área útil para arte na capa de pouco mais de 49 polegadas, utilizados em frente e verso, com informações escolhidas e outras omitidas segundo as intenções de cada produção.
O LP Encanto Caiçara tem quatro lâminas com a dimensão de 144 polegadas. Capa, contracapa e encarte com duas faces. A materialidade do documento disco interessa muito à nossa análise histórica, especialmente pelas relações entre as redes de sociabilidade e os discursos entrelaçados, que apontam para um contexto de produção e circulação da música gravada. O material do disco permite analisar um pouco da intenção do artista e a recepção da sociedade.


José Kleber produz num contexto político para uma circulação cívico cultural. Seu Chiquinho dialoga com instâncias institucionais de saber e poder. Themilton encaminha uma proposta comunitária de comunicação da cultura histórica através da participação coletiva. Luis Perequê, então chamado Luiz Perequeaçu, constrói um imaginário artístico para seu mundo social. Dialogando com os outros personagens desta história, Encanto Caiçara produz uma espécie de síntese (mas tem sua própria história).