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Escola de Jongo no microfone da TV

No quarto episódio vamos ouvir os depoimentos de Vovó Maria Joana Rezadeira e de seu filho, Mestre Darcy.

“Eram os tambores, só, e na boca, no gogó a gente cantando” (Vovó Maria Joana, 1979)

No sábado, 8 de setembro de 1979, o Jornal dos Sports do Rio de Janeiro advertiu em pequena nota que,

“no 'Programa Arte de A a Z', às 21h na TV Educativa, a sensibilidade do telespectador será testada pela televisão, na base do porquê? como? onde? e quando? A proposta dos produtores é realmente um programa para discutir, estudar, pensar e polemizar, mas, antes de tudo, é um novo caminho cultural”.

Em 14 de maio de 2018, o Arquivo Nacional postou em suas redes sociais um vídeo de 4’40” com o depoimento de Vovó Maria Joana Rezadeira falando sobre o jongo para o "Programa Arte de A a Z", da TV Educativa, que foi ao ar em 12 de novembro de 1979.

Dona Maria, a senhora é Bahiana? Não, sou mineira. Não sou bem mineira porque lá onde nasci não é Minas, é Valença (município no sudoeste do Rio de Janeiro). Conhece Valença? Nasci na Fazenda da Saudade, que tinha comunicação com a Fazenda da Bem-posta.”

O depoimento foi gravado na Tenda Espírita Cabana de Xangô, no Morro da Serrinha, bairro de Madureira, Rio de Janeiro.

Dona Maria, o jongo, ele é uma dança religiosa? Não, não é uma dança religiosa, como eu disse à senhora é uma dança que pertenceu aos antigos, do cativeiro.
Mas pode baixar uma entidade no jongo? Pode baixar uma entidade, quando está bem animado, todo mundo dançando e só naquilo, pensando naquela brincadeira, aí pode baixar uma entidade daquelas antigas, que vem agradecer e, também, pra vir relembrar”.

Na mesma década deste depoimento de Vovó Maria Joana, seu filho Darcy Monteiro realizava shows de jongo. Em 1975, o Jornal do Brasil publicava no roteiro de shows da cidade do Rio de Janeiro:

“Roda de Samba. Todas as segundas-feiras, às 21h 30m, no Teatro Opinião, Rua Siqueira Campos, 143, Copacabana. Nesta segunda, Candeia e Darcy do Império, como convidados especiais, apresentando Jongo Basan – show de Caxambu (a dança dos antigos escravos que deu origem ao samba)”.

Em novembro de 2005, o jongo foi proclamado patrimônio cultural brasileiro pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O inventário buscou as expressões de origem africana relacionadas à cultura do café e da cana-de-açúcar na região Sudeste que têm elementos comuns: dança de roda ao som de tambores e cantoria com elementos mágico-poéticos.


O dossiê enfatiza que por ser uma expressão de canto e dança ao som dos tambores, o jongo é mais facilmente registrado em documentos audiovisuais do que por meio da escrita. Contudo, o único documento audiovisual referenciado no texto do dossiê é uma gravação em vídeo realizada por Bianca Brandão, Cecília Mendonça e Luisa Pitanga, em 2000, com Mestre Darcy do Jongo.

“O jongo existia, como eu digo nos meus shows, desde o Brasil colônia. É uma dança de umbigada que foi trazida no porão dos navios Tumbeiros, e está aí o irmão mais velho do partido alto, que foi levado pra bandas de Minas Gerais, zona da mata e adjacências, e mais tarde, com o processo da imigração em busca de melhor “dindin”, de melhores trabalhos, veio situar-se na periferia da cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente nos morros cariocas. Então, o Salgueiro, o Estácio, na Portela em Oswaldo Cruz tinha jongo”.

O som dos tambores está referenciado sete vezes ao longo do dossiê, algumas vezes através do testemunho oral dos praticantes. Toninho Canecão, do Quilombo São José da Serra, município de Valença, diz em entrevista a pesquisadores da UNIRIO.

“(...) eles amarram o tambu, amarram o som do tambu. Existe isso. Amarrando o som do tambu, então todas as pessoas que estão participando da dança, quando saem (...) ficam passando mal, doentes... É por isso que a chefe [do tambu] é umbandista, uma pessoa que mexe com trabalho e entende de espiritismo. (...) Então, se acontecer um fato desses, ele sabe desfazer aquilo. (...) Por isso, quando a gente sai com o tambu, tem que pedir autorização para minha mãe, porque já vai com segurança. Ninguém pega tambu e sai batendo por aí, porque tem mironga”.

Mestre Darcy do Jongo:

“A minha mãe sempre foi festeira. A um só tempo, ela representava em vida três aspectos da nossa cultura: o jongo, o samba e a umbanda. Antes de conhecer o samba, eu conheci o jongo, que a mamãe dançava com o papai na cozinha, o jongo”.
Darcy cantando - “Vó Maria Joana Rezadeira, na Balaiada pôs-se a ensinar, lá na Serrinha, um local de Madureira, até as crianças vão pra brincadeira”.

Maria Joana Rezadeira:

“Meu filho, por exemplo, Darcy, ele faz o jongo sofisticado, mais cheio de poesia”.

Mestre Darcy do Jongo:

“Eu, sem ficar doutor, sou formado na universidade do morro, da vida. Infelizmente, dentro das universidades não está o suco das tradições populares. As tradições populares são com os seu mestres originais mesmo, como eu sou”.

Maria Joana Rezadeira:

“Lá donde na minha terra, onde eu nasci, o jongo era dançado somente com os tambores, com um chocalho, as vezes viola, não era sempre que tinha viola, mas as vezes dava viola. Mas eram os tambores, só, e na boca, no gogó”

(Jongo de despedida)


Mestre Darcy do Jongo:

“Vocês me botaram na mesa e eu sou um mau contador de história. Eu conto um pedaço, daqui a pouco já pulo pra outro. São tantas histórias, muitas emoções”

Maria Joana Rezadeira:

(Vapor da Paraíba) “Machado quer dizer, acabou”.

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CRIAÇÃO

Animação e
desenho gráfico:

RENATO TELES

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Locução e
desenho sonoro:

A pesquisa de conteúdo deste site é feita com o apoio da bolsa de doutorado CAPES PROEX, do programa de pós-graduação em história social da FFLCH da USP.

BRUNO TAVARES

Nome da Pesquisa de Bruno Tavares Magalhães Macedo (2021-2025):

Obsoleto contemporâneo. Ouvindo em máquinas falantes uma história do som brasileiro (1911-2011)

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